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\addcontentsline{toc}{chapter}{Lista de Símbolos}
\chapter*{Lista de Símbolos}
\begin{tblr}{
colspec={ll},
column{1} = {leftsep=0pt, rightsep=15pt}
}
$\cB$ & Álgebra de Borel\\
$\widehat\cB$ & Álgebra de Borel em $\overline\bR$\\
$\chi_E$ & Função caracteristica do conjunto $E$\\
$\eth$ & $\sigma$-álgebra\\
$f^+$ & Parte positiva da função $f$\\
$f^-$ & Parte negativa da função $f$\\
$f \sim_\mu g$ & $f$ e $g$ são $\mu$-equivalentes i.e., $f = g$ em quase toda parte em $X$.\\
$\cL(X,\eth,\mu)$ & Espaço das funções integraveis em relação a medida $\mu$.\\
$\cL^p(X,\eth,\mu)$ & Espaço de Lebesgue $\cL^p$.\\
$\cM(X,\eth)$ & Espaço das funções $f: X \to \overline\bR$ mensuráveis\\
$\cM^+(X,\eth)$ & Espaço das funções $f: X \to \overline\bR$ mensuráveis não negativas\\
$\mu(E)$ & Medida do conjunto $E$\\
$N_\mu(\,\cdot\,)$ & Semi-norma em relação a medida $\mu$.\\
$\cP(X)$ & Conjunto das partes do conjunto $X$\\
$\overline\bR$ & Reta extendida i.e., $\bR \cup \{-\infty,+\infty\}$\\
\end{tblr}
\chapter{Introdução à Teoria da Medida}
A teoria da medida é um ramo fundamental da matemática que estuda a generalização da noção de tamanho, volume e probabilidade. Originada das necessidades da análise e da teoria da probabilidade, essa teoria oferece uma estrutura rigorosa para tratar de conjuntos, funções e integrais em contextos mais abstratos e complexos. Este capítulo explora os conceitos-chave da teoria da medida, suas principais definições e teoremas.
\section{Espaços e funções mensuráveis}
Nesta seção trataremos especificamente dos conceitos de espaços e funções mensuráveis. Para este fim, precisamos inicialmente definir o significado de $\sigma$-álgebra. A partir deste conceito estaremos prontos para estabelecer o que chamamos de espaços mensuráveis
\begin{dbox}
Seja $X$ um conjunto não vazio. Uma família $\eth$ de subconjuntos de $X$ é uma $\sigma$-álgebra se satisfaz as seguintes condições
\begin{enumerate}[leftmargin=*]
\item $\emptyset, X \in \eth$
\item Se $S \in \eth$ então $S^{\mathcal{C}} = X \smallsetminus S \in \eth$
\item Se $(S_n)$ é uma sequência de elementos de $\eth$ então $\bigcup \limits_{n=1}^{\infty} S_n \in \eth$
\end{enumerate}
O par $(X, \eth)$ é dito espaço mensurável e os subconjuntos de $\eth$ são chamados de conjuntos mensuráveis (ou $\eth$-mensuráveis)
\end{dbox}
\begin{ex}
Seja $X$ um conjunto não vazio e considere $\eth = \{\emptyset, X\}$.
Afirmamos que $\eth$ é uma $\sigma$-álgebra.
Com efeito,
\begin{enumerate}[leftmargin=*]
\item $\emptyset, X \in \eth$ pela definição.
\item $\emptyset^{\mathcal{C}} = X \in \eth$ e $X^{\mathcal{C}} = \emptyset \in \eth$
\item $\medcup \emptyset = \emptyset \in \eth$ ou $\medcup X = X \in \eth$
\end{enumerate}
\end{ex}
\begin{ex}
Seja $X = \{a, b, c, d\}$. $\eth = \{\emptyset, \{a,b\}, \{a,c\}, \{a,b,c,d\}\}$ não é uma $\sigma$-álgebra de $X$ pois $\{a,b\}^{\mathcal{C}} = \{c,d\} \not\in \eth$
\end{ex}
\obs Seja $(S_\alpha)$ uma coleção de conjuntos quaisquer. Pela Regra de De Morgan tem-se
\[
\left( \bigcup_{\alpha} S_\alpha \right)^\cC \!\! = \,\bigcap_\alpha S_\alpha^\cC \;\text{ e } \left( \bigcap_{\alpha} S_\alpha \right)^\cC \!\! = \,\bigcup_\alpha S_\alpha^\cC
\]
Dessa forma, se $(S_n)$ é uma sequência de elementos de uma $\sigma$-álgebra, então $\bigcap_{n=1}^\infty S_n \in \eth$
\obs
\obs
\begin{ex}
Seja $X$ um conjunto não enumerável e considere
\[
\eth = \{ S \subseteq X \,; \text{$S$ é enumerável ou $S^{\mathcal{C}}$ é enumerável} \}
\]
Afirmamos que $\eth$ é uma $\sigma$-álgebra. De fato
\begin{enumerate}[leftmargin=*]
\item $\emptyset \in \eth$ pois é enumerável e $X \in \eth$ pois $X^\cC = \emptyset$ que é enumerável
\item se $S \in \eth$ temos as seguintes possibilidades
$S$ é enumerável, então $S^\cC \in \eth$ pois $(S^\cC)^\cC = S$ é enumerável
$S^\cC$ é enumerável, então pela definição da $\sigma$-álgebra, $S^\cC \in \eth$
\item Seja $(S_n)$ uma sequência de subconjuntos em $\eth$, isto é, $S_n \in \eth$ para todo $n \in \bN$, aqui temos três possibilidades a serem consideradas
$S_n$ é enumerável para todo $n \in \bN$. Então $\bigcup_{n=1}^\infty S_n$ é enumerável, portanto está em $\eth$
$S_n^\cC$ é enumerável para todo $n \in \bN$. Então
\[
\left( \bigcup_{n=1}^\infty \right)^\cC \!\! = \, \bigcap S_n^\cC \subseteq S_{n_0}^\cC
\]
é enumerável pois é subconjunto de um conjunto enumerável $S_{n_0}^\cC$, portanto está em $\eth$
Se existem $i,j \in \bN$ tais que
\[
S_i \subseteq X \;\text{ e }\; S_j^\cC \subseteq X \;\text{ são enumeráveis}
\]
podemos afirmar que $\bigcup_{n=1}^\infty S_n$ não é enumerável, pois $S_j^\cC$ é enumerável, e como $X$ não é enumerável, segue que $S_j$ também não é enumerável, fazendo com que a união se torne não enumerável. Dito isso, mostremos que $ \left( \bigcup_{n=1}^\infty S_n \right)^\cC$ é enumerável. Com efeito, observe que
\[
\left( \bigcup_{n=1}^\infty S_n \right)^\cC = \bigcap_{n=1}^\infty S_n^\cC \subseteq S_j^\cC
\]
ou seja, o complementar da união é subconjunto de um conjunto enumerável, logo é um conjunto enumerável. Portanto $\bigcup_{n=1}^\infty S_n \in \eth$.
\end{enumerate}
Dessa forma, $\eth$ é uma $\sigma$-álgebra
\end{ex}
\begin{ex}
Seja $X$ um conjunto não vazio. Se $\eth_1$ e $\eth_2$ são $\sigma$-álgebras de $X$ então $\eth = \eth_1 \cap \eth_2$ também é uma $\sigma$-álgebra de $X$.
\end{ex}
Dado um conjunto cujos elementos são subconjuntos de $X$, o resultado abaixo nos diz como encontrar a menor $\sigma$-álgebra contendo este.
\begin{pbox}
Sejam $X$ um conjunto não vazio e $A \subseteq \mathcal{P}(X)$ uma coleção não vazia de subconjuntos de $X$. Então a interseção de todas as $\sigma$-álgebras de subconjuntos de $X$ que contem $A$ é a menor $\sigma$-álgebra que contém $A$.
\end{pbox}
\begin{prf}
~
\end{prf}
Agora definimos uma $\sigma$-álgebra bastante importante para o estudo da teoria da medida conhecida como álgebra de Borel
\begin{dbox}
Seja $\bR$ o conjunto dos números reais. A álgebra de Borel é a $\sigma$-álgebra $\cB$ gerada por todos os intervalos abertos $(x,y)$ em $\bR$, ou seja, considerando o conjunto
\[
A = \{(x_\alpha, y_\alpha) \,; x_\alpha, y_\alpha \in \bR, x_\alpha < y_\alpha\}
\]
temos que
\[
\cB = \bigcap_\alpha \eth_\alpha,
\]
onde cada $\eth_\alpha$ é uma $\sigma$-álgebra que contem $A$.
\end{dbox}
Equivalentemente, podemos dizer que $\cB$ é a $\sigma$-álgebra gerada por todos conjuntos abertos de $\bR$.
É fácil ver que essa equivalência é válida pois qualquer conjunto aberto de $\bR$ pode ser expresso como união de intervalos abertos.
Ainda mais, expressndo $\cB$ dessa forma é possível ver que não precisamos que $\cB$ seja uma $\sigma$-álgebra de $\bR$ mas sim de qualquer espaço topólogico $(X,\cT)$, nesse caso dizemos que $\cB$ é a $\sigma$-álgebra gerada pela topólogia $\cT$.
Nesse trabalho a notação $\cB$ será utilizada apenas para a álgebra de Borel em $\bR$.
O resultado abaixo apresenta uma outra forma de definir a álgebra de Borel
\begin{pbox}
$\cB$ é a $\sigma$-álgebra gerada por todos intervalos fechados
\end{pbox}
\begin{prf}
~
\end{prf}
\begin{ex}
Alguns exemplos de conjuntos que estão em $\cB$ são
\begin{itemize}
\item Todo conjunto fechado é um conjunto em $\cB$ pois é o complementar de um conjunto aberto.
\item Todo conjunto enumerável está em $\cB$ pois se $B = \{x_1,x_2,\dots\}$, então $B = \bigcup_{n=1}^\infty \{x_n\}$ que é um conjunto em $\cB$ pois cada $\{x_n\}$ é um conjunto fechado.
\item Todo intervalo do tipo $[a,b)$ ou $(a,b]$ com $a,b \in \bR$ é um conjunto em $\cB$ pois $[a,b) = \bigcap_{n=1}^\infty (a- \frac{1}{k}, b)$ e $(a,b] = \bigcap_{n=1}^\infty (a, b + \frac{1}{n})$.
\end{itemize}
\end{ex}
A sensação é de que a álgebra de Borel contem todos os subconjuntos de $\bR$, isto é $\cB = \cP(\bR)$.
Porem este não é o caso, pois existem subconjuntos de $\bR$ que são bastante dificeis de definir (vide [??]) que não estão em $\cB$.
Mas se esses conjuntos são tão dificeis de definir por que precisamos de uma $\sigma$-álgebra que exclui eles.
Na seção a seguir estudaremos o conceito de medida e suas propiedades, em um exemplo veremos que ao tentar definir uma medida no espaço $(\bR,\cP(\bR))$ uma propiedade importante não é satisfeita, mas restrigindo para o espaço $(\bR,\cB)$ conseguimos definir a mesma medida de forma que todas propiedades são satisfeitas.
% Every subset of $\bR$ which we meet in everyday use is an element of Borel $\sigma$-algebra $\cB$; and indeed it is difficult (but possible!) to find a subset of $\bR$ constructed explicitly (without the Axiom of Choice) which is not in $\cB$. (Ver referência)
\begin{dbox}
O conjunto $\overline\bR$ é dita reta extendida e é definido por
\[
\overline\bR = \bR \cup \{-\infty, +\infty\} = [-\infty,+\infty]
\]
\end{dbox}
\obs Operações com $\infty$ em $\overline\bR$
\begin{pbox}
Seja $\bar\bR$ a reta estendida. Considere $E_1 = E \cup \{-\infty\}$, $E_2 = E \cup \{+\infty\}$, $E_3 = E \cup \{-\infty, +\infty\}$ e $\widehat\cB = \{E_1, E_2, E_3, E\}$ com $E$ variando na álgebra de Borel $\cB$. Então $\widehat\cB$ é uma $\sigma$-álgebra em $\overline\bR$ denominada álgebra estendida de Borel.
\end{pbox}
\begin{prf}
\end{prf}
% \dots
\begin{dbox}
Uma função $f : X \to \mathbb R$ é dita ser $\eth$-mensurável (ou simplesmente mensurável) se para cada $\alpha \in \mathbb{R}$, o conjunto
\[
\{x \in X \,; f(x) > \alpha\}
\]
pertence a $\sigma$-álgebra.
\end{dbox}
\begin{ex}
A função constante $x \mapsto c$ é mensurável.
Com efeito, se $\alpha \geqslant c$, então
\[
\left\{ x \in X \,; f(x) > \alpha \right\} = \emptyset \in \eth
\]
pois o único valor que a função assume é $c$.
Se $\alpha < c$, então
\[
\left\{ x \in X \,; f(x) > \alpha \right\} = X \in \eth
\]
\end{ex}
\begin{ex}
A função caracteristica $\chi_S$ de um subconjunto $S \in \eth$ é mensurável
\end{ex}
\begin{ex}
Se $f : X \to \bR$ com $X \in \cB \subseteq \bR$ é contínua, então $f$ é mensurável. De fato, basta notar que
\[
\{ x \in X \,; f(x) > \alpha\} = f^{-1}((\alpha,\infty)).
\]
Pela contínuidade de $f$, o conjunto $f^{-1}((\alpha,\infty))$ é aberto para todo $\alpha \in \bR$.
Dessa forma $\{x \in X \,; f(x) > \alpha\} \in \cB$.
Portanto $f$ é mensurável.
\end{ex}
\begin{ex}
Dada uma função $f$ mensurável.
A função \textit{truncagem de $f$} (Figura \ref{fig:truncagem}) dada por
\[
f_n(x) =
\left\{
\begin{aligned}
f(x) &\; \text{ se } |f(x)| \leqslant n\\
n &\; \text{ se } f(x) > n\\
-n &\; \text{ se } f(x) < -n
\end{aligned}
\right.
\]
é mensurável para todo $n \in \mathbb{N}$
\begin{figure}
\centering
\begin{tikzpicture}
\begin{scope}[shift={(-4,0)}, scale=0.8]
\draw[black!30] (-4,-4) grid (4,4);
\draw[thick, black!60, -stealth] (-4,0) to (4,0);
\draw[thick, black!60, -stealth] (0,-4) to (0,4);
\draw[domain=-2.31:2.152, variable=\x, samples=50, smooth, very thick, ProcessBlue!90!black] plot ({\x}, {0.5 * (\x + 1) * (\x + 1) * (\x + 2) * (\x - 1) * (\x - 2)});
\end{scope}
\begin{scope}[shift={(4,0)}, scale=0.8]
\draw[black!30] (-4,-4) grid (4,4);
\draw[thick, black!60, -stealth] (-4,0) to (4,0);
\draw[thick, black!60, -stealth] (0,-4) to (0,4);
\node[align=left, anchor=north west] at (-3.9,3.9) {$\textcolor{ProcessBlue!90!black}{\blacksquare\!\blacksquare \;\; f_1(x)}$ \\ $\textcolor{ForestGreen}{\blacksquare\!\blacksquare \;\; f_2(x)}$};
\draw[very thick, ForestGreen] (-2.20459, -2) -- (-4,-2)
-- plot[domain=-2.20459:0, variable=\x, samples=50, smooth] ({\x}, {0.5 * (\x + 1) * (\x + 1) * (\x + 2) * (\x - 1) * (\x - 2)})
-- (0, 2) -- (0.54948,2)
-- plot[domain=0.54948:1.33027, variable=\x, samples=50, smooth] ({\x}, {0.5 * (\x + 1) * (\x + 1) * (\x + 2) * (\x - 1) * (\x - 2)})
-- (1.33027, -2) -- (1.84929,-2)
-- plot[domain=1.84929:2.0934, variable=\x, samples=50, smooth] ({\x}, {0.5 * (\x + 1) * (\x + 1) * (\x + 2) * (\x - 1) * (\x - 2)})
-- (2.0934, 2) -- (4,2);
\draw[very thick, ProcessBlue!90!black] (-2.12313, -1) -- (-4,-1)
-- plot[domain=-2.12313:-0.38822, variable=\x, samples=50, smooth] ({\x}, {0.5 * (\x + 1) * (\x + 1) * (\x + 2) * (\x - 1) * (\x - 2)})
-- (-0.38822, 1) -- (0.81837,1)
-- plot[domain=0.81837:1.16148, variable=\x, samples=50, smooth] ({\x}, {0.5 * (\x + 1) * (\x + 1) * (\x + 2) * (\x - 1) * (\x - 2)})
-- (1.16148, -1) -- (1.93717,-1)
-- plot[domain=1.93717:2.05051, variable=\x, samples=50, smooth] ({\x}, {0.5 * (\x + 1) * (\x + 1) * (\x + 2) * (\x - 1) * (\x - 2)})
-- (2.05051, 1) -- (4,1);
\end{scope}
\end{tikzpicture}
\caption{À esquerda o gráfico de $f$ e à direita o gráfico de $f_1$ e $f_2$\\Fonte: Autoral}
\label{fig:truncagem}
\end{figure}
\end{ex}
\section{Medida}
\begin{dbox}
Uma medida é uma função $\mu : \eth \to \bar{\mathbb{R}}$ que satisfaz
\begin{enumerate}[leftmargin=*]
\item $\mu(\emptyset) = 0$
\item $\mu(S) \geqslant 0$ para todo $S \in \eth$
\item se $(S_n) \subseteq \eth$ é uma sequência de subconjuntos disjuntos em $\eth$, então
\[
\mu \left( \bigcup_{n=1}^{\infty} S_n \right) = \sum_{n=1}^{\infty} \mu(S_n)
\]
\end{enumerate}
\end{dbox}
\begin{ex}
Seja $(\mathbb{N}, \eth)$ um espaço mensurável, onde $\eth = \mathcal P (\mathbb N)$.
A função $\mu : \eth \to \bar{\mathbb R}$ definida por $\mu(E) = \# E$, se $E$ é finito, e $\mu(E) = \infty$ se $E$ é infinito, é uma medida em $\eth$.
Com efeito,
\begin{enumerate}[leftmargin=*]
\item $\mu(\emptyset) = 0$ por vacuidade
\item $\mu(E) \geqslant 0$ por definição
\item .
\end{enumerate}
\end{ex}
\subsection{Construindo uma medida para $\bR$}
Nosso objetivo agora é construir uma medida para $\bR$ e mostrar o motivo de utlizar a algebra de Borel ao inves de $\cP(\bR)$.
\begin{dbox}
O comprimento de um intervalo aberto $I$ é uma função $\ell$ dada por
\[
\ell(I) =
\left\{
\begin{array}{ll}
b - a & \text{se } I = (a,b) \text{ com } a,b \in \bR \text{ e } a < b\\
0 & \text{se } I = \emptyset\\
\infty & \text{se } I = (-\infty, a) \text{ ou } I = (a,\infty) \text{ com } a\in\bR \\
\infty & \text{se } I = (-\infty,\infty).
\end{array}
\right.
\]
\end{dbox}
Seja $A \in \cP(\bR)$. O tamanho de $A$ deve ser no máximo a soma dos comprimentos de uma sequência de intervalos abertos tais que a união contem $A$. A definição abaixo formaliza essa ideia
\begin{dbox}
A medida exterior $m(\,\cdot\,)$ de um conjunto $A \in \cP(\bR)$ é definida por
\[
m(A) = \left\{\sum_{k=1}^{\infty} \ell(I_k) \,; I_1, I_2,\dots, \text{ são intervalos abertos tais que } A \subseteq \bigcup_{k=1}^\infty I_k \right\}.
\]
\end{dbox}
Essa definição envolve uma suoma infinita de uma sequência $t_1,t_2,\dots,$ de elementos de $[0,\infty]$, que é $\infty$ se pelo menos algum $t_k = \infty$, ou se a série definida pelas somas parciais de $t_k$ é divergente. Dito isso
\[
\sum_{n=1}^{\infty} t_k = \lim_{n\to\infty} \sum_{k=1}^{n} t_k.
\]
\begin{ex}
Conjuntos finitos tem medida exterior nula.
Seja $A = \{a_1,\dots,a_n\} \in \cP(\bR)$ um conjunto finito.
Dado $\varepsilon > 0$ defina a sequência $I_k$ de intervalos abertos por
\[
I_k =
\left\{
\begin{array}{ll}
(a_k - \varepsilon, a_k + \varepsilon) &\text{se } k \leqslant n\\
\emptyset &\text{se } k > n
\end{array}
\right.
\]
Então $I_1, I_2,\dots,$ é uma sequência de intervalos abertos tais que a união contem $A$. Dito isso
\[
\sum_{n=1}^{\infty} \ell(I_k) = 2\varepsilon n.
\]
Logo, $m(A) \leqslant 2\varepsilon n$.
Como $\varepsilon$ é arbitrário, temos que $m(A) = 0$
\end{ex}
A proposição abaixo generaliza esse exemplo para conjuntos enumeráveis
\begin{pbox}
Conjuntos enumeráveis tem medida exterior nula.
\end{pbox}
\begin{prf}
Seja $A = \{a_1,a_2,\dots\} \in \cP(\bR)$ um conjunto enumerável. Dado $\varepsilon > 0$, para todo $k \in \bN$ defina a sequência
\[
I_k = \left( a_k - \frac{\varepsilon}{2^k}, a_k + \frac{\varepsilon}{2^k} \right).
\]
Dessa forma, $I_1,I_2,\dots,$ é uma sequência de intervalos abertos tais que a união contem $A$.
Como
\[
\sum_{k=1}^{\infty} \ell(I_k) = 2\varepsilon
\]
temos que $m(A) < 2\varepsilon$.
Pelo fato de $\varepsilon$ ser arbitrário, temos que $m(A) = 0$.
\end{prf}
Uma outra propiedade da medida exterior é sua invariância a translação
\begin{pbox}
Seja $t \in \bR$ e $A \in \cP(\bR)$.
Então
\[
m(A) = m(t + A),
\]
onde
\[
t + A = \{t + a \,; a \in A\}
\]
\end{pbox}
\begin{prf}
Seja $I_1,I_2,\dots,$ uma sequência de intervalos abertos tais que a união contem $A$.
Dito isso $t + I_1, t+ I_2,...,$ é uma sequência de intervalos abertos tais que a união contem $t + A$.
Logo
\[
m(t + A) \leqslant \sum_{k=1}^{\infty} \ell(t + I_k) = \sum_{k=1}^{\infty} \ell(I_k).
\]
Fazendo o ínfimo do ultimo termo, temos que $m(t + A) \leqslant m(A)$.
Para verificar a desigualdade na outra direção note que $A = -t + (t + A)$, então utilizando a desigualdade que acabamos de provar temos
\[
m(A) = m(t - (t + A)) \leqslant (t + A).
\]
Portanto $m(A) = m(t + A)$
\end{prf}
\section{Integral de Lebesgue}
A integral de Lebesgue é uma extensão da integral de Riemann, projetada para lidar com uma classe mais ampla de funções e conjuntos. Ela permite calcular integrais considerando a medida dos valores que a função assume, tornando-se uma ferramenta fundamental na teoria da medida e análise funcional.
The "point" of Lebesgue integration is not that it's a way to do standard integrals of calculus by some new method. It's that the definition of the integral is more theoretically powerful: it leads to more elegant formalism and cleaner results (like the dominated convergence theorem) that are very useful in harmonic/functional analysis and probability theory.
\begin{figure}
\centering
\includegraphics[width=3cm]{lebesgue.jpeg}
\caption{Henri Lebesgue (1875 -- 1941)}
\end{figure}
Nesta seção, abordaremos os conceitos fundamentais da integral de Lebesgue, destacamos importância aos teoremas da convergência monotona e convergência dominada.
Vale ressaltar que nessa seção estaremos trabalhando em um espaço de medida $(X, \mathfrak{M}, \mu)$ fixo.
\begin{dbox}
Uma função $\varphi : X \to \bR$ é simples se assume apenas um número finito de valores em sua imagem ($\# \varphi(X) < \infty$)
\end{dbox}
Uma função $\varphi$ simples e mensurável pode ser representada da seguinte forma
\begin{equation} \label{eq:representacaopadrao}
\varphi = \sum_{j = 1}^n a_j \chi_{E_j}
\end{equation}
onde $a_j \in \bR$ e $\chi_{E_j}$ é a função caracteristica do conjunto $E_j \in \eth$. Essa representação é única pelo fato de todos $a_j$ serem distintos, os conjuntos $E_j$ serem disjuntos para todo $j = 1,\dots,n$, além disso, $X = \bigcup_{j=1}^n E_j$.
\begin{dbox}
Seja $\varphi \in \cM^+(X,\eth)$ uma função simples com a representação (\ref{eq:representacaopadrao}). Definimos a integral de $\varphi$ em relação a $\mu$ por
\begin{equation*}
\int \varphi \, d\mu = \sum_{j=1}^n a_j \mu(E_j)
\end{equation*}
\end{dbox}
\obs Adotamos a convenção $0 \cdot \infty = 0$. Dessa forma a integral da função identicamente nula é $0$ indepdendente se o conjunto tem medida finita ou infinita.
\begin{lbox} \label{lm:propiedades-elementares-simples}
Dadas funções simples $\varphi, \psi \in M^+(X, \eth)$ e $c \geqslant 0$ tem-se
\begin{enumerate}[leftmargin=*, label=\textbf{(\alph*)}]
\item $\displaystyle \int c \varphi \, d\mu = c \int \varphi \, d\mu$
\item $\displaystyle \int (\varphi + \psi) \, d\mu = \int \varphi \,d\mu + \int \psi \, d\mu$
\item A aplicação
$\displaystyle \lambda(E) = \int \varphi \chi_E \, d\mu$
para todo $E \in \eth$ é uma medida em $\eth$.
\end{enumerate}
\end{lbox}
\begin{prf}
~
\textbf{(a)} Mostremos que
\[
\int c \varphi \, d\mu = c \int \varphi \, d\mu.
\]
Com efeito, para $c = 0$,
\[
\int c \varphi \, d\mu = 0 = c \int \varphi \, d\mu.
\]
por outro lado, para $c > 0$, podemos escrever $c\varphi$ da seguinte forma
\[
c\varphi = \sum_{j = 1}^{n} ca_j \chi_{E_j}
\]
Dito isso,
\[
\int c \varphi \, d\mu = \sum_{j = 1}^{n} ca_j \mu(E_j) = c\sum_{j = 1}^{n} a_j \mu(E_j) = c\int \varphi \, d\mu
\]
\textbf{(b)} Agora, mostremos que
\[
\int (\varphi + \psi) \, d\mu = \int \varphi \,d\mu + \int \psi \, d\mu
\]
Para isso, podemos considerar as representações padrões das funções simples $\varphi, \psi \in \cM^+(X,\eth)$
\[
\varphi = \sum_{j = 1}^{n} a_j \chi_{E_j} \quad \text{ e } \quad \psi = \sum_{k = 1}^{m} b_k \chi_{F_k},
\]
dessa forma, obtemos uma representaçao para $\varphi + \psi$ dada por
\[
\varphi + \psi = \sum_{j = 1}^{n} a_j \chi_{E_j} + \sum_{k = 1}^{m} b_k \chi_{F_k}.
\]
No entanto, essa representação não necessáriamente é a representação padrão, pois é possível que existam $j_0, j_1 \in \{1,\dots,n\}$ e $k_0, k_1 \in \{1,\dots,m\}$, tais que $a_{j_0} + b_{k_0} = a_{j_1} + b_{k_1}$.
Considere os elementos distintos do conjunto
\[
H = \{a_j + b_k \,; j \in \{1,\dots,n\}, k \in \{1,\dots,m\}\}
\]
e denominamos os elementos por $c_h$ com $h = 1,\dots,\# H$, e $G_h$ a união de todos os conjuntos $E_j \cap F_k$ tais que $a_j + b_k = c_h$
Afirmamos que os conjuntos $G_h$ são dois-a-dois disjuntos. De fato
\[
G_h \cap G_H = (E_j \cap F_k) \cap (E_J \cap F_K) = E_j \cap E_J \cap F_k \cap F_K = \emptyset \cap \emptyset = \emptyset,
\]
sendo assim
\[
\mu(G_h) = \widetilde{\sum} \mu(E_j \cap F_k)
\]
onde o somatório $\widetilde{\Sigma}$ está relacionado aos indices $1 \leqslant j \leqslant n$ e $1 \leqslant k \leqslant m$ tais que $a_j + b_k = c_h$
Portanto definimos a representação padrão de $\varphi + \psi$ por
\[
\varphi + \psi = \sum_{h = 1}^{\# H} c_h \chi_{G_h},
\]
deste modo
\[
\begin{aligned}
\int (\varphi + \psi) \, d\mu &= \sum_{h = 1}^{\# H} c_h \textcolor{ForestGreen}{\mu(G_h)}\\
&= \sum_{h = 1}^{\# H} \textcolor{ForestGreen}{\widetilde{\sum}} c_h \textcolor{ForestGreen}{\mu (E_j \cap F_k)}\\
&= \sum_{j = 1}^{n} \sum_{k = 1}^{m} (a_j + b_k) \mu(E_j \cap F_k)\\
&= \sum_{j = 1}^{n} \sum_{k = 1}^{m} a_j \mu(E_j \cap F_k) + \sum_{j = 1}^{n} \sum_{k = 1}^{m} b_k \mu(E_j \cap F_k)
\end{aligned}
\]
como $X$ é a união das famílias $\{E_j\}$ e $\{F_k\}$, temos que
\[
\mu(E_j) = \sum_{k = 1}^{m} \mu(E_j \cap F_k) \quad{ e } \quad \mu(F_k) = \sum_{j = 1}^{n} \mu(E_j \cap F_k).
\]
Portanto
\[
\int (\varphi + \psi) \, d\mu = \sum_{j = 1}^{n} a_j \mu(E_j) + \sum_{k = 1}^{m} b_k \mu(F_k) = \int \varphi \, d\mu + \int \psi \, d\mu.
\]
\textbf{(c)} Por fim, queremos mostrar que
\[
\lambda(E) = \int \varphi \chi_E \, d\mu
\]
é uma medida em $\eth$. Com efeito,
\begin{enumerate}
\item $\displaystyle \lambda (\emptyset) = \int \varphi \chi_{\emptyset} \, d\mu = \int 0 \, d\mu = 0$
\item Note que como $\varphi \in \cM^+(X,\eth)$ os elementos $a_j$ na representação padrão são não negativos. Com efeito, sabemos que $0 \leqslant \varphi(x)$ para todo $x \in X$, daí
\[
0 \leqslant \varphi(x) = \sum_{j=1}^{n} a_j \chi_{E_j}(x),
\]
porem, como os conjuntos $E_j$ são disjuntos, existe um único $1 \leqslant j_0 \leqslant n$ tal que $x \in E_{j_0}$.
Dessa forma, para todo $j \neq j_0$, $\chi_{E_j}(x) = 0$, então
\[
0 \leqslant \varphi(x) = \sum_{j=1}^{n} a_j \chi_{E_j}(x) = a_{j_0}
\]
Daí,
\[
\lambda(E) = \int \varphi \chi_{E} \, d\mu = \sum_{j=1}^{n} a_j \mu(E \cap E_j) \geqslant 0
\]
pois mostramos que $a_j > 0$ para todo $1 \leqslant j \leqslant n$ e $\mu$ é uma medida.
\item Considere $(F_k) \subseteq \eth $ uma sequência disjunta de conjuntos
\[
\begin{aligned}
\lambda \left( \bigcup_{k=1}^\infty F_k \right) &= \int \varphi \chi_{\medcup F_k}\\
&= \sum_{j = 1}^{n} a_j \mu \left( \left( \bigcup_{k = 1}^\infty F_k \right) \cap E_j \right)\\
&= \sum_{j = 1}^{n} a_j \mu \left( \bigcup_{k=1}^\infty (F_k \cap E_j) \right)\\
&= \sum_{j=1}^{n} a_j \sum_{k=1}^{\infty} \mu(F_k \cap E_j)\\
&= \sum_{j=1}^{n}\sum_{k=1}^{\infty} a_j \mu(F_k \cap E_j)\\
&= \sum_{k=1}^{\infty}\sum_{j=1}^{n} a_j \mu(F_k \cap E_j)\\
&= \sum_{k=1}^{\infty} \int \varphi \chi_{F_k} \, d\mu\\
&= \sum_{k=1}^{\infty} \lambda(F_k)
\end{aligned}
\]
\end{enumerate}
\end{prf}
\begin{ex}
A função
\[
\chi_{\bQ} =
\left\{
\begin{array}{ll}
1 &\text{se } x \in \bQ\\
0 &\text{se } x \not\in \bQ
\end{array}
\right.
\]
é um exemplo clássico nos cursos de análise na reta de uma função que não é integrável.
Porem essa afirmação é válida apenas quando estamos trabalhando com a integral de Riemann, pois utlizando a integral de Lebesgue, essa função tem integral com resultado bem definido
De fato, considere o espaço de medida $(\bR, \cB, \mu)$ onde $\cB$ é a álgebra de Borel e $\mu$ é medida exterior (de Lebesgue).
Dessa forma
\[
\int \chi_\bQ \,d\mu = \mu(\bQ) = 0.
\]
pois $\bQ$ é enumerável.
\end{ex}
Agora, podemos extender a definição da integral de Lebesgue para qualquer função mensurável não negatíva (não necessáriamente simples)
\begin{dbox}
A integral de uma função $f \in \cM^+(X,\eth)$ em relação a $\mu$ é definida por
\[
\int f \, d\mu = \sup_\varphi \int \varphi \, d\mu
\]
onde $\varphi$ são funções simples em $\mathcal{M}^+(X,\eth)$ tais que $0 \leqslant \varphi(x) \leqslant f(x)$ para todo $x \in X$.
\end{dbox}
Além disso, definimos a integral da função $f$ sobre um conjunto mensurável
\begin{dbox}
A integral de $f \in \cM^+(X,\eth)$ sobre um conjunto $E \in \eth$ é dada por
\[
\int_E f \, d\mu = \int f \chi_E \, d\mu
\]
\end{dbox}
\dots
\begin{lbox} \label{lm:propiedades-integral-nao-negativa}
Sejam $f, g \in \cM^+(X,\eth)$ e $E, F \in \eth$.
Então são válidas as afirmações abaixo
\begin{enumerate}[leftmargin=*, label=\textbf{(\alph*)}]
\item se $f \leqslant g$ tem-se
\[
\int f \, d\mu \leqslant \int g \, d\mu
\]
\item se $E \subseteq F$ tem-se
\[
\int_E f \, d\mu \leqslant \int_F f \, d\mu
\]
\end{enumerate}
\end{lbox}
\begin{prf}
~
\textbf{(a)} Seja $\varphi$ uma função simples em $M^+$, então
\[
\int f \, d\mu = \sup_{\substack{0 \leqslant \varphi \leqslant f \\ \varphi \text{ simples} \\ \varphi \in M^+}} \int \varphi \, d \mu \leqslant \sup_{\substack{0 \leqslant \varphi \leqslant g \\ \varphi \text{ simples} \\ \varphi \in M^+}} \int \varphi \, d \mu = \int g \, d\mu
\]
\textbf{(b)} Como $f \chi_E \leqslant f \chi_F$, segue do item anterior que
\[
\int f \chi_E \, d\mu \leqslant \int f \chi_F \, d\mu,
\]
dito isso
\[
\int_E F \, d \mu \leqslant \int_F f \, d\mu.
\]
\end{prf}
Um dos resultados mais importantes da teoria da medida é o Teorema da Convergência Monótona, que será enunciado e demonstraado a seguir.
\begin{tbox}[Teorema da Convergência Monótona] \label{thm:teorema-da-convergencia-monotona}
Seja $(f_n)$ uma sequência monótona crescente de funções mensuráveis não-negativas convergindo para $f$, então,
\[
\int f \, d\mu = \lim \int f_n \, d \mu.
\]
\end{tbox}
\begin{prf}
Como $f_n \to f$ onde $(f_n) \subseteq \cM^+(X,\eth)$, pelo corolário ?? temos que $f \in \cM^+(X,\eth)$.
Pela monotonicidade da sequência $f_n \leqslant f_{n+1} \leqslant f$, pelo item \textbf{(a)} do lema anterior
\[
\int f_n \, d\mu \leqslant \int f_{n+1} \, d\mu \leqslant \int f \, d\mu
\]
para todo $n \in \bN$.
Dito isso
\[
\lim \int f_n \, d\mu \leqslant \int f \, d\mu.
\]
Por outro lado, seja $0 < \alpha < 1$ e $\varphi$ uma função simples mensurável tal que $0 \leqslant \varphi \leqslant f$ e considere
\[
A_n = \{x \in X \,; f_n(x) \geqslant \alpha \varphi(x)\} = \{x \in X \,; [f_n - \alpha \varphi](x) \geqslant 0\}
\]
como $f_n$ e $\varphi$ são funções mensuráveis, temos que $A_n \in \eth$.
Além disso, $A_n \subseteq A_{n+1}$ já que $f_n \leqslant f_{n+1}$ e $X = \bigcup_{n =1}^{\infty} A_n$ pois $\sup \{f_n\} = f$, $\alpha \in (0,1)$ e $0 \leqslant \varphi \leqslant f$.
Daí, pelo lema anterior
\begin{equation} \label{eq:1.13}
\int_{A_n} \alpha \varphi \,d\mu \leqslant \int_{A_n} f_n \, d\mu \leqslant \int f_n \, d\mu.
\end{equation}
Dessa forma, a sequência $(A_n)$ é monótona crescente e tem união $X$, segue dos lemas ?? e ?? que
\[
\int \varphi \, d\mu = \lim \int_{A_n} \varphi \, d\mu
\]
Com efeito, sabemos que
\[
\lambda(E) = \int \varphi \chi_{E} \, d \mu
\]
é uma medida, assim
\[
\int \varphi \, d\mu = \int \varphi \chi_{\medcup A_n} \, d\mu = \lambda \left( \bigcup_{n=1}^\infty A_n \right) = \lim \lambda(A_n) = \lim \int \varphi \chi_{A_n} \, d\mu = \lim \int_{A_n} \varphi \, d\mu
\]
... fazendo $n \to \infty$ em \ref{eq:1.13}
\[
\alpha \int \varphi \, d\mu \leqslant \lim \int f_n \, d\mu.
\]
Como a equação acima é válida para todo $0 < \alpha < 1$, obtemos
\[
\int \varphi \, d\mu \leqslant \lim \int f_n \, d\mu,
\]
ainda mais, segue do fato de $\varphi$ ser uma função simples tal que $0 \leqslant \varphi \leqslant f$ tem-se que
\[
\int f \, d\mu = \sup_{\substack{0 \leqslant \varphi \leqslant f \\ \varphi \text{ simples} \\ \varphi \in M^+}} \int \varphi \, d\mu \leqslant \lim \int f_n d \mu.
\]
Assim
\[
\int f \, d\mu \leqslant \lim \int f_n \, d\mu
\]
Portanto por ?? e ??, chegamos a
\[
\int f \, d\mu = \lim \int f_n \, d\mu
\]
\end{prf}
O Lema \ref{lm:propiedades-elementares-simples} sobre as operações elementares envolvendo a integral de funções simples mensuráveis e não-negativas, tambem é válido para funções mensuráveis não-negativas quaisquer como mostra o corolário abaixo
\begin{cbox} \label{cl:propiedades-elementares-nao-negativa}
Sejam $f, g \in \cM^+(X,\eth)$ e $c > 0$, então são válidas as seguintes afirmações
\begin{enumerate}[leftmargin=*, label=\textbf{(\alph*)}]
\item $\displaystyle \int cf \, d\mu = c \int f \,d \mu$
\item $\displaystyle \int (f + g) \, d\mu = \int f \,d \mu + \int g \, d\mu$
\end{enumerate}
\end{cbox}
\begin{prf}
~
\textbf{(a)} Se $c = 0$
\[
\int c f \, d\mu = 0 = c \int f \, d\mu.
\]
Se $c > 0$, considere $(\varphi_n)$ uma sequência monótona crescente de funções simples em $\cM^+(X,\eth)$ convergindo para $f$ (lema ??). Dito isso, $(c\varphi_n)$ é um sequência monótona crescente que converge para $cf$. Pelo Lema \ref{lm:propiedades-elementares-simples} e pelo Teorema da Convergência Monótona, temos que
\[
\int cf \, d\mu = \lim \int c \varphi_n \, d\mu = c \lim \int \varphi_n \, d\mu = c \int f \, d\mu.
\]
\textbf{(b)} De forma análoga considere $(\varphi_n)$ e $(\psi_n)$ sequências monótonas crescentes de funçoes simplies em $\cM^+(X,\eth)$ que convergem para $f$ e $g$ respectivamente. Dessa forma $(\varphi_n + \psi_n)$ é uma sequência monótona crescente que converge para $f + g$. Portanto
\[
\int (f+g) \, d\mu = \lim \int (\varphi_n + \psi_n) \, d \mu = \lim \int \varphi_n \, d\mu + \lim\int \psi_n \, d\mu = \int f \, d\mu + \int g \, d\mu.
\]
\end{prf}
Um outro resultado importante dessa seção é o lema de Fatou que será apresentado a seguir.
\begin{lbox}[Lema de Fatou] \label{lm:lema-de-fatou}
Se $(f_n) \subseteq M^+ (X,\eth)$, então
\[
\int\liminf f_n \, d\mu\leqslant\liminf \int f_n \,d\mu.
\]
\end{lbox}
\begin{prf}
Seja $g_m = \inf \{ f_m, f_{m+1},\dots\}$, dessa forma $g_m \leqslant f_n$ para todo $m \leqslant n$.
Sendo assim,
\[
\int g_m \, d\mu \leqslant \int f_n \, d\mu
\]
para todo $m \leqslant n$. Desse modo
\[
\int g_m \,d\mu \leqslant \liminf \int f_n \, d\mu.
\]
Por outro lado, temos que $(g_m)$ é crescente e converge para seu supremo, ou seja, $\liminf f_n$.
Portanto pelo \nameref{thm:teorema-da-convergencia-monotona}
\[
\int \liminf f_n \, d\mu = \lim \int g_m \,d\mu \leqslant \liminf \int f_n\, d\mu.
\]
\end{prf}
Da mesma forma que definimos uma medida através de uma função simples em $\cM^+(X,\eth)$ podemos generalizar esse resultado para funções que não são necessáriamente simples
\begin{cbox} \label{cl:medida-funcao-nao-negativa}
Seja $f \in \cM^+(X,\eth)$.
A aplicação $\lambda : \eth \to \overline\bR$ definida por
\[
\lambda(E) = \int f \chi_E \, d\mu
\]
é uma medida.
\end{cbox}
\begin{prf}
~
\begin{enumerate}
\item $\displaystyle\lambda(\emptyset) = \int_{\emptyset} f \, d\mu = \int f \chi_{\emptyset} \, d\mu = \int 0 \, d\mu = 0$.
\item Como $f \in \cM^+(X,\eth)$ temos que $\lambda(E) = \int_E f \, d\mu \geqslant \int_E 0 \, d\mu = 0$.
\item Sejam $E_n$ uma sequência de conjuntos disjuntos em $\eth$, $E = \bigcup_{n=1}^{\infty} E_n$ e considere $f_n$ definida por
\[
f_n = \sum_{k=1}^{n} f \chi_{E_k}
\]
Desse modo, pelo Corolário ?? e por indução temos que
\[
\int f_n \, d\mu = \int \sum_{k=1}^{n} f \chi_{E_k} \, d\mu = \sum_{k=1}^{n} \int f \chi_{E_k} = \sum_{k=1}^{n} \lambda(E_k).
\]
Além diso, podemos escrever
\[
\lim f_n = \lim \sum_{k=1}^{n} f \chi_{E_k} = \sum_{k=1}^{\infty} f \chi_{E_k} = f \chi_E
\]
desde que $(E_n)$ é uma sequência de conjuntos disjuntos.
Por fim, como $(f_n)$ é uma sequência crescente em $M^+$ que converge para $f \chi_E$, pelo Teorema da Convergência Monótona tem-se que
\[
\lambda(E) = \int f \chi_E \, d\mu = \int \lim f_n \,d\mu = \lim \int f_n \, d\mu = \sum_{k=1}^{\infty} f \chi_{E_k}
\]
\end{enumerate}
Portanto, $\lambda$ é uma medida.
\end{prf}
\begin{cbox} \label{cl:integral-medida-nula}
Seja $f \in \cM^+(X,\eth)$.
Então, $f(x) = 0$ em quase toda parte de $X$ se, e somente se,
\[
\int f \, d\mu = 0
\]
\end{cbox}
\begin{prf}
Suponha que $\displaystyle \int f\,d\mu = 0$ e considere o conjunto
\[
E_n = \left\{ x \in X \,; f(x) > \frac{1}{n} \right\}
\]
para todo $n \in \bN$, de modo que $f \geqslant \frac{1}{n}\chi_{E_n}$.
Note que
\[
0 = \int f \,d\mu \geqslant \tfrac{1}{n} \! \int \chi_{E_n} \, d\mu = \tfrac{1}{n}\mu(E_n) \geqslant 0.
\]
Isto nos diz que $\mu(E_n) = 0$ para todo $n \in \bN$. Além disso
\[
E = \{x \in X \,; f(x) > 0\} = \bigcup_{n=1}^{\infty} E_n
\]
pois se $x \in \bigcup_{n=1}^{\infty} E_n$, então existe $n_0 \in \bN$ tal que $x \in E_{n_0}$, logo
\[
f(x) > \frac{1}{n_0} > 0.
\]
Assim, $x \in E$.\\[5pt]
Por outro lado, se $x \in E$, temos que $f(x) > 0$.
Utilizando a propiedade Arquimediana, existe $n_0 \in \bN$ tal que
\[
\frac{1}{f(x)} < n_0 \iff f(x) > \frac{1}{n_0},
\]
isto é, $x \in E_{n_0} \subseteq \bigcup_{n=1}^{\infty} E_n$.\\[5pt]
Portanto $E = \bigcup_{n=1}^{\infty} E_n$ como queriamos mostrar. Dito isso
\[
\mu(E) = \mu\left( \bigcup_{n=1}^{\infty} E_n \right) = \lim \mu(E_n) = 0
\]
desde que $(E_n)$ é uma sequência crescente.
Isto nos diz que $f(x) = 0$, para todo $x \in E^{\cC}$ com $\mu(E) = 0$, ou seja $f(x) = 0$ em quase toda parte em $X$.
Reciprocamente, suponha que $f(x) = 0$ em quase toda parte em $X$. Se $E = \{x \in X \,; f(x) > 0\}$, então $\mu(E) = 0$.
Sendo assim, considerando $f_n = n \chi_E$ para todo $n \in \bN$, temo que $f \leqslant \liminf f_n$ e pelo Lema de Fatou
\[
0 \leqslant \int f \, d\mu \leqslant \liminf \int f_n \,d\mu = \liminf n\mu(E) = 0
\]
Portanto
\[
\int f \, d\mu = 0.
\]
\end{prf}
\begin{cbox} \label{cl:medida-absolutamente-continua}
Seja $f \in \cM^+(X,\eth)$, então a aplicação $\lambda : \eth \to \bR$ definida por
\[
\lambda(E) = \int_E f \, d\mu.
\]
Então, a medida $\lambda$ é absolutamente contínua em relação a $\mu$, isto é, se $\mu(E) = 0$, então $\lambda(E) = 0$
\end{cbox}
\begin{prf}
Se $\mu(E) = 0$, então
\[
f\chi_E(x) =
\left\{
\begin{array}{cl}
f(x) & x \in E\\
0 & x \not\in E
\end{array}
\right.
\]
isto é, $f \chi_E = 0$ em quase toda parte. Portanto
\[
\lambda(E) = \int_E f \,d\mu = \int f\chi_E \, d\mu = 0.
\]
\end{prf}
O corolário abaixo é uma versão mais geral do Teorema da Convergência Monótona.
\begin{cbox} \label{cl:convergencia-monotona-qtp}
Se $(f_n)$ é uma sequência monótona crescente de funções em $\cM^+(X,\eth)$ que converge em quae toda parte de $X$ para a função $f \in \cM^+(X,\eth)$, então
\[
\int f \, d\mu = \lim \int f_n \, d\mu
\]
\end{cbox}
\begin{prf}
Seja $N$ um conjunto de medida nula. Suponha que $(f_n)$ converge para $f$ em todo o pontos de $M = N^{\cC}$.
Dessa forma, a sequência $(f_n \chi_M)$ converge para $f\chi_M$, pelo Teorema da Convergência Monótona, temos que
\[
\int f \chi_M \, d\mu = \lim \int f_n \chi_M \, d\mu.
\]
Além disso, podemos escrever $f$ e $f_n$ da seguinte forma
\[
f = f \chi_M + f \chi_N \;\text{ e }\; f_n = f_n \chi_M + f_n \chi_N,
\]
pois $M = N^{\cC}$.
Como $\mu(N) = 0$, as funções $f \chi_N$ e $f_n \chi_N$ são nulas em quase toda parte.
Dito isso, pelo Corolário \ref{cl:integral-medida-nula}, segue que
\[
\lim \int f_n \, d\mu =
\]
\end{prf}
O resultado abaixo ...
\begin{cbox}
Seja $(g_n)$ uma sequência em $\cM^+(X,\eth)$. Então
\[
\int \left( \sum_{n=1}^{\infty} g_n \right) \, d\mu = \sum_{n=1}^{\infty} \int g_n \, d\mu.
\]
\end{cbox}
\begin{prf}
Seja $f_n = g_1 + \cdots + g_n$ para todo $n \in \bN$. Como $g_n \geqslant 0$, temos que $(f_n)$ é uma sequência crecente que converge para $f = \sum_{n=1}^{\infty} g_n$.
Pelo Teorema da Convergência Monótona, segue que
\[